quarta-feira, 27 de junho de 2012

SER CAIÇARA: UMA CIÊNCIA ECOLÓGICA.


As práticas tradicionais são hoje reconhecidas por parte da comunidade científica como sustentáveis e de certo modo possuidoras de valor científico.

Para Sanches, dois dos aspectos que fundamentam os pressupostos políticos-ambientais a favor da permanência de determinados grupos em áreas protegidas são: ... [o] conhecimento inerente de suas experiências ancestrais sobre a ecologia das espécies e tipos de tecnologia apropriada que lhes permitiram se adaptar e reproduzir-se cultural e materialmente;... pela existência de uma relação de equilíbrio entre as práticas de manejo e o meio ambiente e de mecanismos culturais conservacionistas que impediriam a depleção dos recursos naturais em níveis comprometedores à manutenção dos mesmos. As populações tradicionais seriam, portanto, responsáveis inclusive pela preservação da biodiversidade.(1997: 27) (ADAMS, 2000:161).


Sobre este aspecto, Lúcia Helena Cunha postulou:

A importância das sociedades tradicionais aparece também no pensamento de Vieira (1995, p. 304) afirmando que suas lições nos processos de apropriação, uso e gestão de recursos renováveis litorâneos, podem se constituir em pontos de referências relevantes na construção da proposta de gestão patrimonial. Para ele, [...] se o respeito pelo uso sustentado dos recursos tornar-se algo compartilhado pela comunidade, aumenta as chances de êxito de formas de gestão capazes de favorecer o alcance simultâneo de uma distribuição mais eqüitativa da riqueza gerada e de aumento das margens de sustentabilidade dos recursos da comunidade”. Nessa direção, preocupado com os processos que tendem a desarticular as formas tradicionais de organização da pesca artesanal, esse autor coloca que: “em termos concretos caberia empreender, num primeiro momento, a diversificação do potencial dos recursos existentes em cada micro-região litorânea, em sintonia com a valorização de formas tradicionais detida pelo pescador” (Vieira, 1995, p. 306-312). Assim, esse conhecimento ungido de diálogos e duelos com os próprios movimentos da natureza deve ser atualizado, restaurado e revigorado para a sua própria permanência no tempo; em particular em face da premência de novos paradigmas de uso sustentável dos recursos naturais que, sem abstrair a importância do conhecimento tradicional das comunidades pesqueiras nas localidades pesquisadas, deve colocar em outro patamar as suas condições de vida. (CUNHA, 2008:10).

BIBLIOGRAFIA:
ADAMS, Cristina. “As populações caiçaras e o mito do bom selvagem: a necessidade de uma nova abordagem interdisciplinar”. Revista de Antropologia, vol.43, n.1, São Paulo, 2000. Consulta na internet, endereço http://www.scielo.br/pdf/ra/v43n1/v43n1a04.pdf, em 20 de abril de 2012
CUNHA, Lúcia Helena de Oliveira. Diálogo de saberes entre tradição e modernidade: ordens e desordens. 26ª. Reunião Brasileira de Antropologia 2008 Porto Seguro, Bahia, Brasil p. 18. Consulta na internet, endereço http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2021/lucia%20helena%20de%20oliveira%20cunha.pdf, em 20 de abril de 2012.


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