domingo, 25 de novembro de 2012

ENSEADA DO FLAMENGO - ENSEADA DOS TUBARÕES

Mergulhando a fundo nos documentos referentes a região da Praia da Enseada e Ilha Anchieta, encontrei vários registros de terras datados da segunda metade do século 19.
Estas escrituras de terras denominam a localidade como "Enseada dos Tubarões".

Estes documentos podem comprovar que as antigas "histórias de pescador" que narram encontros titânicos com enormes cações na região da atual Enseada do Flamengo e Ilha Anchieta eram 100% verdadeiras. Relatos de canoas abocanhadas, pescadores desaparecidos e também de presos "vigiados" e impedidos de escapar à nado do presídio da Ilha Anchieta pela grande quantidade de tubarões no canal do Boqueirão, podem refletir nada mais que a realidade.
Estes encontros eram tão frequentes que até existiam técnicas especiais para escapar de um ataque das temidas tintureiras, anequins ou galhas pretas, espécies mais agressivas.
Estas técnicas incluíam a cor da pintura do fundo da canoa; o ouvido atento ao "choro de bebê" carcterístico de um ataque eminente, após o qual todos se deitavam em absoluto silêncio no fundo da canoa; e a técnica de abandonar o banco da canoa juntamente com os restos de isca e sair remando muito silenciosamente.

Neste mesmo período, por volta de 1856, relatos de navegadores ingleses já utilizavam dupla denominação para nossa Enseada, um dos quais traduzo: " Mais abaixo para o oeste está a Ilha dos Porcos entre a qual e o continente encontra-se um confortável ancoradouro chamado Baía dos Flamengos, de outro modo chamada Shark's Bay."

No entanto outro livro de 1820 chamado "Memorias Historicas do Rio de Janeiro" registra: "Defronte da ilha (Anchieta) está a Enseiada dos Tubaroens, boa, limpa e capaz de navios grandes".

Uma coicidência, é o fato de que o nome antigo da cidade de Ubatuba era Iperuig, que significa em tupi: água dos tubarões (iperu=tubarão, y=água/rio).
Abaixo uma foto da Praia da Enseada em 1950, mostra como podem ter sido um dia estas águas qualhadas de tubarões.
foto: Família Prochaska.
ATUALIZAÇÃO EM 4 DE MARÇO DE 2019:
No ano de 2015, colhendo relatos dos pescadores locais para o meu mestrado entrevistei o Mestre Tião Lourenço pouco tempo antes dele falecer e registrei este maravilhoso recorte do Tempo Antigo
Nos contam os caiçaras da Praia da Enseada que, de primeiro, no tempo dos antigos, ainda existiam grandes peixes capazes de “comer gente”:
Olha, eu ainda consegui vê muito cação ali né... Naquele tempo... que nem, pra gente tomá banho, precisava o pai da gente ir olhá a gente tomá banho né, por causa de cação ou mero... [...] As vez a gente ia espalhá cana lá no morro (do Porto Velho), a gente via o cação passando assim, com a água clara assim (faz gesto), você via ele assim rente à costeira... andando (nadando)... botava até a galha pra fora né... Aquele anequim do branco então... aquele cardume assim, atrás do outro assim, 4, 5 que você via né... Esse anequim azul passava, as vez a turma largava a rede, rasgava tudo a rede da turma... Então o pessoal tinha até medo né, de saí de canoa, saía com medo porque, é... Que nem a tintureira (tipo de cação) memo, a tintureira tinha cada uma (grande porte) que você via passando aí... E ela (a tintureira) ficava “de pé” debaixo da canoa gemendo... Ah ela geme... ela faz hummmm, hummmm... Daí o cara ficava quietinho assim... pra remá assim... quietinho, quietinho pra podê chegá no porto. (OLIVEIRA FILHO, 2015, comunicação pessoal)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

UMA CANOA UBATUBANA NAS TERRAS DO TIO SAM?

Esta é uma história de algumas décadas atrás, mas no entanto sempre me desperta enorme curiosidade. Talvez um dia eu ainda consiga mais informações sobre o acontecido ou até mesmo descubra onde está esta canoa.
Aí vai, por enquanto, o que eu tenho.

“Afinal, a "Sala Nova" acabou sendo construída e inaugurada com festa. A partir daí passou a ser o cenário de inúmeros fatos inesquecíveis, além das aulas. Um destes episódios foi o da despedida do professor John Stark, que deixava a Glete para retornar aos Estados Unidos. Em 1964, se não me trai a memória, o professor Stark ia retornar aos Estados Unidos e o corpo discente e docente decidiu homenageá-lo com uma festa de despedida, na Sala Nova, evidentemente. A despedida foi organizada pelo CEPEGE e deveria ser dada uma lembrança ao mestre. Discutiu-se muito qual deveria ser o presente, recaindo a escolha em lhe oferecer uma canoa, daquelas cavadas em um tronco de árvore, muito usada pelos pescadores nos rios e na costa. Essa boa e inusitada sugestão foi dada pelo professor Melcher, que tinha conhecimento da predileção do Stark pelo canoísmo, pois ele morava nos EUA, à margem de um lago, onde costumava andar de caiaque. Uma canoa foi, então, adquirida de um pescador no Saco da Ribeira, Ubatuba, com a interveniência do autor deste texto que, naquela época, realizava pesquisas no litoral Norte do Estado, transportada para a Glete e presenteada ao Mestre Stark, no dia da sua festa de despedida. E o saudoso professor ficou grato e emocionado, levando o presente para os Estados Unidos, como parte da sua bagagem. Alguns anos mais tarde, recebemos a notícia de que ele estava usando a canoa em seus passeios pelo lago”.

Eduardo Damasceno Camilher - Geologia - Turma de 62.   

Artigo publicado na Revista Brasil Mineral

Seção: Pelas Pedras do Caminho Mineral

Edição 199, Outubro de 2001.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

ENCONTRADAS PLANTAS ORIGINAIS DO PRESÍDIO DA ILHA ANCHIETA

Durante sua recente pesquisa sobre a história da Ilha Anchieta, o pesquisador Peter Santos Németh teve grata surpresa ao deparar-se com os desenhos originais do famoso projeto de Ramos de Azevedo para construção do presídio, datado de 1907.


São ao todo 14 pranchas belíssimamente pintadas, em aquarela e bico de pena, dos prédios que abrigariam a então chamada Colonia Correccional do Porto das Palmas. O projeto detalha as fachadas e as plantas internas do Quartel, da Casa dos Internados, da Casa da Economia, da Casa da Guarda, da Casa do Director, da Escola, da Capella além de dois mapas da Ilha dos Porcos Grande, sendo um colorido com a localização dos futuros prédios.


As aquarelas estão em relativo bom estado de conservação mas necessitam de cuidados. Nos relata o pesquisador: "A beleza dos desenhos e sua importância histórica demandam a urgente restauração do material e uma posterior digitalização, para que possa ser manipulado virtualmente, preservando-o".

 
Sua pesquisa também tem contribuído para derrubar alguns mitos sobre a Ilha Anchieta, visto que alguns erros históricos vêm sendo perpetuados pela não checagem profunda das fontes de consulta. Um grande exemplo recorrente é o das denominações associadas ao território da Ilha através dos tempos. Nomes como Pó-Quâ, Tapera de Cunhambebe, e afirmações de que o local tenha sido o sítio da aldeia indígena visitada pelo Padre José de Anchieta, em meados do século 16, ainda carecem de comprovação científica.  Fato é, que desde 1506 a Ilha já era conhecida pelos navegadores espanhóis como Isla de los Puercos, por nela existirem muitos deles selvagens.
Para o pesquisador, a localização das plantas originais pode contribuir muito para um efetivo plano de restauro dos prédios hoje em ruínas. Projetos de restauro que vez por outra são anunciados pelos governos porém nunca realizados.