quarta-feira, 24 de abril de 2013

O MUTIRÃO DA PUXADA

O mutirão(1), pitirão, adjutório, troca-dia ou campanha é um sistema comunitário de ajuda mútua muito comum entre as comunidades tradicionais Caiçaras. Aos camaradas convidados para ajudar no serviço da roça, era oferecido um farto almoço e ao fim do dia um baile chamado Fandango Caiçara. Esse sistema contribuía para fortalecer as relações sociais e comunitárias, hoje substituído em grande parte pelo pagamento em dinheiro nas localidades em que essas relações foram dissolvidas.

O vídeo no link abaixo mostra uma puxada de canoa ocorrida do Sertão do Ubatumirim em Ubatuba, local que ainda preserva a coesão comunitária. Desse modo a maior Canoa Caiçara de Ubatuba, um imenso jequitibá esculpido, pode ser transportado do interior da mata até o rancho para receber o acabamento fino.

ASSISTA AO VÍDEO CLICANDO AQUÍ

Outro filme interessante, é o clássico Vento Contra, de Adriana Mattoso, onde no encerramento do filme, a puxada de canoa representa a união da comunidade Caiçara de Trindade - R.J. na luta pelo direito ancestral sobre suas terras.

VALE A PENA ASSISTIR AQUÍ

Recentemente mais uma puxada de canoa foi registrada em Trindade. A equipe do Domingo Espetacular foi até Trindade, no Rio de Janeiro, para conhecer o trabalho de mestres canoeiros e a "puxada da canoa". Veja como os caiçaras fazem para levar as canoas de cerca de uma tonelada barranco abaixo até a chegada às águas.

ASSISTA A REPORTAGEM AQUI

foto: Peter S. Németh


(1) referências bibliográficas:
Gioconda Mussolini. Ensaios de antropologia indígena e caiçara, 1980, p.238;
Antonio Carlos Diegues. Pescadores, camponeses e trabalhadores do mar, 1983, p.226;
Maria Luiza Marcílio. Caiçara: terra e população, 1986, p.35;
Clóvis Caldeira. Mutirão: formas de ajuda mútua no meio rural, 1956.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

PANORAMA DA PESCA ARTESANAL NO BRASIL

ESSA ENTREVISTA COM O PROF. ANTONIO CARLOS DIEGUES FEITA EM 2005 PELO NAVI – Núcleo de Antropologia Audiovisual e Estudos da Imagem,  EXPÕE DE MODO CLARO ALGUNS ASPECTOS RELACIONADOS A ATIVIDADE PESQUEIRA ARTESANAL BRASILEIRA.

ENTREVISTA COM PROF. DIEGUES - 27 MINUTOS.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

REDES SOCIAIS CAIÇARAS

E já que as novas tecnologias funcionam como "buzo" moderno. 
O espia escolhendo cardumes, risca o fósforo avisando pra turma iniciar o cerco.
Assim juntos , lanço a lanço, as comunidades vão repartindo seu quinhão, fortalecendo as relações.
Fio por fio, nó por nó, malha por malha, arcala por arcala, o tresmalho há muito esquecido no meio das tralhas antigas começa a ser remendado.

1 - PONTA NEGRA - PARATY - R.J. - BRASIL

2 - CORRIDA DE CANOAS - PONTA NEGRA


quarta-feira, 10 de abril de 2013

A CANOA CAIÇARA PARANAENSE

Aqui neste blog já escreví sobre a Canoa Caiçara do litoral de Ubatuba, sobre a Canoa Caiçara Boneteira da Ilhabela e faltava algo sobre a Canoa Caiçara do litoral Paranaense.
Há pouco tomei conhecimento da mais recente aquisição do navegador e canoeiro Amyr Klink (assista o vídeo), trata-se de uma estupenda Canoa Caiçara de Guaraqueçaba, litoral do Paraná.
Seu nome é Rosa X e foi toda reformada, bordada e motorizada pelo Mestre João.
foto: Amyr Klink - oficial
Com dimensões aproximadas de 1 metro de boca por 8 metros de comprimento, esta legítima Canoa Caiçara Paranaense se caracteriza pela proa alta e larga e principalmente pelo braço do leme que possui um design peculiar e variado, provavelmente identificando o Mestre que o construiu.
foto: Mestre João e o braço do leme - AK
A bordadura também é digna de nota pois após a reforma ficou maior e mais aberta, aumentando a capacidade da canoa de enfrentar o mar grosso, evitando que os borrifos encham-na de água.
fotos: Rosa X antes e depois, notem a bordadura e o braço do leme diferentes - AK 
 
A motorização também foi executada pelo Mestre João que assentou com capricho o Yanmar novinho.
Aliás yanmar em japonês quer dizer libélula. 
 
foto: AK oficial - facebook
Não tenho ainda dados oficiais sobre as dimensões (boca x comprimento), madeira de confecção da canoa e da bordadura, tipo de motorização e propulsão, mas posso garantir que trata-se de uma jóia náutica que deve se comportar na água com velocidade, estabilidade e segurança absoluta. 
Já escutei do próprio Amyr sobre a famosa canoa Marvada lá da Praia da Enseada em Ubatuba, (feita pelo Mestre Baéco do Ubatumirim), a seguinte frase: "Pra mim essa canoa vale mais que um iate", portanto sei que escolhida por ele só pode ser uma canoa muito especial. 
Parabéns ao Amyr e à Rosa X que se encontraram e com certeza vão desfrutar juntos de novas aventuras.
 
foto: AK oficial - facebook


segunda-feira, 8 de abril de 2013

O SER AUTÔNOMO - APRENDENDO COM OS MESTRES, A VIVER INTEGRALMENTE.

Segundo Luiz Phelipe Andrès: Tecnologia, é a capacidade de resolver problemas com um mínimo de recursos. Partindo deste princípio podem representar a mais alta tecnologia:  um simples anzol, uma rede de pesca, uma canoa escavada, um remo ou mesmo o mais elementar nó de calão, todos eficazes e confeccionados praticamente do mesmo modo há milhares de anos. E o que estas tecnologias milenares podem nos ensinar num momento em que o mundo todo busca alternativas sustentáveis de sobrevivência com responsabilidade ambiental?
Do modo de vida em Cuba ao dos Estados Unidos da América, sem penetrar na relativista seara filosófica, fica claro que depende do próprio ser-humano escolher com que nível de conforto ele pretende viver e quais são as necessidades "reais" ou "supérfluas" indispensáveis para sua sobrevivência. (Essa matéria do Estadão corrobora minha ideia)
Fato inegável é que o consumismo desenfreado, gerado intencionalmente pelo sistema econômico hegemônico vigente, já ameaça nossas reservas naturais e a salubridade do planeta.
Aqueles que estão mais próximos da natureza, cujas vidas dependem tradicionalmente da integridade dos ciclos naturais já percebem a diferença. Mas e aqueles que vivem, crescem e pensam dentro da lógica das metrópoles, alienados, desenraizados, sem o contato direto com a natureza que sustenta e ensina?
E o poder político de decisão para as questões socioambientais, o poder de convencimento da televisão, as ferramentas de "marketing", as medidas de crescimento econômico; eles partem das metrópoles ou dos campos e mares? As perguntas, os impasses, já se fazem presentes, as soluções é que estão ainda muito longe de serem encontradas. Antes era possível mudar-se de um local degradado para outro ainda virgem, inexplorado, mas uma falência de recursos global precisará de decisões muito mais difíceis que o simples êxodo para ser equacionada. Um começo pode ser nos voltarmos para os modelos que até hoje obtém sucesso em garantir a sobrevivência humana de forma autônoma com a menor degradação ambiental possível. Identificar estes modelos não é muito difícil, pois ainda hoje, após milênios, em pleno século XXI eles ainda existem embora rotulados de "pobres", "camponeses", "pescadores" e "selvagens".
A população tradicional Caiçara é uma destas fontes de saber ancestral que garante a simbiose entre homem e natureza. Seus conhecimentos extremamente sofisticados, acumulados e aperfeiçoados por séculos permitem ainda hoje que aqueles que escolheram viver de forma independente e autônoma possam fazê-lo.
Para melhor compreender o modo de vida Caiçara e conhecer suas qualidades recomendo a leitura das dissertações de Ricardo "Papu" Martins Monge, através das quais podemos mergulhar no cotidiano das comunidades Caiçaras da Península da Juatinga em Paraty - R.J. e percebermos como seu relativo isolamento garantiu a preservação de saberes, usos e costumes como numa cápsula do tempo.
foto: Papu 2012.

terça-feira, 2 de abril de 2013

DOCUMENTÁRIO VIDA CAIÇARA

Este documentário do ano 2000, captura os aspectos do modo de vida Caiçara das populações do sul do Estado de São Paulo. O relativo isolamento e as pressões sofridas pela criação das áreas de proteção ambiental marcaram de forma contundente estas comunidades. Sem terem como reproduzir sua cultura seja na pesca, caça ou nas pequenas roças, eles abandonam suas posses rumo às cidades ou tentam sobreviver sob o fio da espada do Estado, desprovidos da liberdade e autonomia de outrora.