terça-feira, 27 de agosto de 2013

O SONHO DE UM GUAPURUVU - por JULIO CÉSAR MENDES



Peço permissão novamente para publicar mais um maravilhoso texto do meu amigo Julinho Mendes.

Fonte: O Guaruçá - http://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=45375"

ATENÇÃO, ESSE TEXTO É MELHOR LIDO SOB ESTA MELODIA DE RODOLFO VIDAL: CLIQUE AQUI 

Julinho Mendes
27/08/2013 - 09h00
O sonho de um guapurubu

Julinho Mendes 
Já cumpri com meu divino dever: reflorestei, dei sombra fresca, produzi ar puro, abriguei passarinhos, alimentei formigas, oxigenei a terra. Nesse meu período de vida, vislumbrei a vocação e o destino de meus pais: Ser navegante! Mas o destino a Deus pertence. Hoje me encontro velho, seco, sem vida e com o destino de em breve me desintegrar na terra. Não foi esse o destino de meus pais. Não é esse o fim que eu quero. Quero ainda poder navegar, morar num ranchinho à beira da praia, rolar em rolo e beijar o mar. Quero pescar, balançar nas marolas, carregar pescador, sentir o vento na proa, quilhar na popa em rumo a parcéis. Quero ser livre, seguir o clarão do sol e voltar no rastro da lua. Quero ouvir o canto dos goetes, quero o encanto das sereias, a benção de Iemanjá...
Estou com medo. O tempo está passando e ninguém vem me buscar. Pica-paus e baitacas já me fazem buracos para seus ninhos. Minhas raízes interromperam o sulco da terra, não bebo mais água, não oxigeno mais. Por favor, não me deixem aqui! Daqui a pouco vem um sudoeste qualquer e me põe no chão e cai também o meu sonho de ser navegante.
Se me ajudarem saio daqui e igual papai e mamãe me torno canoa, navegante e me findo no mar. Quero que me pintem de verde e amarelo e me deem o nome de Ícaro. Vou navegar ao sol, derreter-me ao tempo e diluir-me no mar.
Quero ser canoa! Quero navegar!
Na mata, em breve, findarei. No mar vida nova terei.
Sou Guapurubu, dos tupinambás, dos caiçaras... Sou do lugar de muitas canoas. Sou de Ubatuba e moro no morro do Félix.
Venham! Venham me buscar!



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