segunda-feira, 28 de outubro de 2013

20 MIL ACESSOS AOS VÍDEOS E TEXTOS DA INSTITUIÇÃO CANOA CAIÇARA

Ao iniciar nossa pesquisa sobre a Canoa Caiçara no ano de 2007, percebemos que quase nada havia de específico sobre essa embarcação tradicional típica.
Isso nos levou a iniciar uma grande compilação de diversos tipos de materiais e informações que se encontravam espalhadas. Desse esforço surgiu o Blog e o Canal do Youtube onde passamos a concentrar todo esse acervo de pesquisa.
E foi com grata surpresa que notamos dia após dia um crescente interesse pelos vídeos e artigos postados que nessa semana atingiu a marca de 20 mil acessos.

Ao longo desses anos de atividade, esse interesse de pessoas diversas em torno dos saberes e fazeres relacionados à Canoa Caiçara criou um canal de comunicação que aglutinou e fortaleceu as iniciativas de salvaguarda das técnicas construtivas desse tipo de embarcação.
Hoje está em análise o Registro da Canoa Caiçara como Bem Cultural Imaterial Brasileiro pelo Iphan.
Agradecemos aqui de forma singela a todos que de forma direta ou indireta têm contribuído para o fortalecimento do que já está se delineando como a "Instituição" Canoa Caiçara.
A todos vocês nosso MUITÍSSIMO OBRIGADO!


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"RECATEGORIZAÇÃO DA RESERVA JUATINGA, PODE EXTINGUIR A CANOA CAIÇARA"

Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/brasil/transformac-o-da-reserva-da-juatinga-em-parque-estadual-ameaca-canoa-caicara-1.185166

24/10/2013 08:42 - Atualizado em 24/10/2013 08:42
Transformação da Reserva da Juatinga em parque estadual ameaça canoa caiçara

Tradicional embarcação poderá ser extinta com a proibição de retirada de madeira na região

RIO DE JANEIRO – A tradicional canoa caiçara, esculpida em um único tronco de árvore, corre o risco de desaparecer. Utilizada para a pesca por gerações em Paraty, no sul fluminense, a canoa não poderá mais ser feita se os caiçaras forem proibidos de coletar os troncos na Reserva Ecológica da Juatinga. O problema será discutido nesta quinta-feira (24) na consulta pública sobre a transformação da reserva em parque estadual, a chamada recategorização, no município.

A proposta de mudança faz parte do esforço da Secretaria Estadual do Ambiente para se adequar à lei federal que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). O modelo não prevê a categoria “reserva ecológica” e sugere 12 modalidades. Entre elas, além do  parque, está a reserva de desenvolvimento sustentável (RDS), que tem a preferência de comunidades caiçaras na Mata Atlântica de Paraty.
Foto: Peter Santos Németh

Um dos últimos mestres canoeiros e vice-presidente da Associação de Moradores do Pouso da Cajaíba, comunidade da região, Francisco Sobrinho, diz que com a mudança fazer canoas não será a única coisa que se tornará mais difícil. Segundo ele, a modalidade inviabilizará a sobrevivência do grupo.

“Se já é difícil com a [lei ambiental] de reserva ecológica, que dificulta a reforma de nossas casas, será ilegal fazer roça, pescar, pegar uma casca [de árvores] para remédio, cipó para artesanato, tirar madeira para a canoa, remo ou passar pelas trilhas de séculos que dão acesso às nossas comunidades [acessíveis somente por barco]”, explicou.

Para defender a RDS e barrar a recategorização da Juatinga para parque estadual, os caiçaras de Paraty organizam uma manifestação hoje, durante a consulta popular organizada pela Secretaria Estadual do Ambiente na cidade. O objetivo do governo é resolver diversos conflitos fundiários, que envolvem a histórica grilagem de terras na região, a especulação imobiliária, além de preservar a Mata Atlântica.

Na proposta do estado algumas áreas serão transformadas em parque e outras em RDS. Porém, nenhuma das duas categorias resolverá de uma vez os problemas locais, na avaliação da geógrafa pela Universidade de São Paulo Lúcia Cavalieri, que estuda o tema na região há 20 anos.

“O parque vai expulsá-los de lá. Já a RDS permitirá um mosaico de propriedades públicas e privadas, beneficiando grileiros que também têm como prática expulsar os caiçaras para a construção de condomínio de luxos ou hotéis”,  alerta a pesquisadora. “É a solução mais fácil, mas não resolve”, completou.

Para ela, poderia ser estudada a criação de reserva extrativista, inventada pelo ambientalista Chico Mendes. “O Brasil já colocou esta reserva como modelo para  a preservação da Amazônia. Por que não para a Mata Atlântica?”. No projeto atual, ela alerta que as comunidades ficarão confinadas na área costeira.

O diretor de Biodiversidade de Áreas Protegidas da secretaria, André Ilha, defende a recategorização de uma parte em parque e outra em RDS. Ele assegura que não haverá remoção de núcleos familiares como os da Praia do Sono e do Pouso, e que o parque não será contíguo. “Dá para fazer sem abrir mão da preservação da floresta no longo prazo e sem prejudicar o desenvolvimento das comunidades”.

Depois de definir o modelo que substituirá a Reserva da Juatinga, a proposta deve ser aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio. Enquanto a decisão não é tomada, as comunidades caiçaras fazem campanha para que  o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) declare a canoa caiçara um patrimônio imaterial. O órgão já julgou o pedido pertinente.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

INOVAÇÕES TÉCNICAS NA PESCA, FORMAM A IDENTIDADE CAIÇARA


Fonte: http://www5.usp.br/32601/segundo-estudo-da-fflch-inovacoes-tecnicas-na-pesca-ajudaram-a-formar-identidade-caicara/

Rúvila Magalhães / Agência USP de Notícias

A pesca é uma atividade comum no litoral de São Paulo e está sempre agregando inovações às suas técnicas, mas sem perder as origens herdadas pela tradição. Grande parte das mudanças foi surgindo de iniciativas individuais ou de pequenos grupos. Como características históricas do progresso, as novidades úteis são mantidas enquanto o que pouco agregou acaba caindo em desuso. A evolução histórica das técnicas de pesca utilizadas pelos caiçaras do litoral paulista entre os anos de 1910 e 2011, e suas implicações socioambientais, foi o objeto de pesquisa do analista ambiental e historiador Marcelo Afonso, realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Foto: Peter Santos Németh

O objetivo do estudo foi mostrar que mesmo que as inovações técnicas tenham se instalado na pesca dos caiçaras, elas não foram responsáveis por eliminar a identidade do grupo. Ao contrário, a assimilação de novas técnicas contribuiu para a formação da identidade. “Muitas das inovações, como o cerco flutuante trazido pelos japoneses na década de 1920, e o uso dos diferentes materiais como o plástico e o náilon, foram adaptadas e incorporadas na cultura caiçara, que desde sempre foi marcada pela heterogeneidade, pelo dinamismo e pela mudança na busca pela sobrevivência”, exemplifica Afonso.

Além disso, foram delimitados alguns marcos referentes à introdução da pesca industrial tendo como objetivo verificar a participação que esse tipo de pesca teve nas transformações ligadas às técnicas utilizadas e às relações de trabalho entre os pescadores. Entender como o estilo de vida do pescador artesanal mudou com a introdução dos barcos de pesca industrial também figurou entre os objetivos do estudo.

Evoluções seletivas
A análise de um século de história sobre a pesca no litoral paulista mostrou ao pesquisador que as evoluções e modificações foram seletivas. Novas técnicas só eram adotadas pela maioria quando estas mostravam-se eficientes. “A comunidade espera para ver se o novo método ou petrecho está funcionando e, se for comprovado que ele dá bons resultados, uma parte dos pescadores passa a aceitá-lo e utilizá-lo, até o surgimento de uma outra nova técnica (trazida por pessoas de fora, ONGs, governo etc.), que passará pelo mesmo processo”, explica.

Esse processo de testes e adaptações de técnicas gerou uma gama variada de pescadores trabalhando simultaneamente com diversos tipos de pesca, o que fez surgir diferenças sociais internas e aumentou a competitividade entre os pescadores, causando, algumas vezes, conflitos que geraram falta de união em momentos importantes para as comunidades. A ocorrência da multiplicidade de técnicas, porém, revelou a capacidade dos caiçaras em se adaptar às adversidades econômicas, sociais e ambientais durante todo o século passado.

As transformações
“As transformações técnicas na pesca paulista, no decorrer do século 20, foram mais intensas principalmente nos novos materiais de fabricação dos petrechos, nas embarcações com motores mais possantes e com maior capacidade de carga e nas tecnologias de navegação e captura do pescado”, relata Afonso acerca das evoluções. Segundo ele, os marcos importantes para a pesca no século 20 foram a introdução da traineira, em 1910, do motor de centro e do power block, que é um tipo de guincho motorizado para recolhimento de redes, e do GPS, sonar e ecossondas.

Dados do Instituto de Pesca, coletados desde a década de 1960, apontaram para uma redução do pescado, sendo que 2011 teve o menor volume de pesca nos últimos anos, apesar do aprimoramento tecnológico. Pescadores entrevistados em todas as partes do litoral paulista afirmaram que isso vem acontecendo devido à pesca excessiva realizada por embarcações industriais. No entanto, pesquisadores do tema rebatem dizendo que o poder de captura dos pescadores artesanais também é um influenciador nesse caso. Somado a isso, tem-se a degradação dos ecossistemas marinhos, que pode explicar a redução na quantidade de peixes.

A dissertação de mestrado História de pescador: um século de transformações técnicas e socioambientais na pesca do caiçara do litoral de São Paulo (1910-2011), orientada por Gildo Magalhães dos Santos Filho e defendida em agosto de 2013, contribui na construção de um histórico das transformações técnicas e de outros fatores socioeconômicos e políticos ligados ao setor. Segundo o pesquisador, o reconhecimento dos caiçaras como população tradicional é essencial para a sua inclusão social e econômica, assim como o conhecimento de sua história e técnicas é importante na autoafirmação dessa população.

“O poder público precisa encontrar uma maneira de estimular uma relação equilibrada entre conservação do patrimônio cultural e natural e a melhoria do padrão de vida dos caiçaras. Essa não é uma tarefa simples e essa pesquisa pode contribuir, de alguma maneira, com elementos que devem ser levados em conta nas tomadas de decisões políticas voltadas ao apoio e à inserção econômica e social das comunidades pesqueiras”, conclui Afonso.

Mais informações: marcelum@yahoo.com, com Marcelo Afonso

sábado, 19 de outubro de 2013

OFICINAS DE DIAGNÓSTICO APA MARINHA DO L.N.

Aconteceu dia 14 de outubro em Caraguatatuba a oficina participativa para subsidiar o plano de manejo da APA Marinha do Litoral Norte de São Paulo.
Esse dia foi reservado aos pescadores artesanais e maricultores de pequeno porte.

O plano de manejo é um documento que irá definir o modo como os usos e atividades poderão ser desenvolvidos nos territórios da APAMLN e ARIESS, de forma a garantir a utilização sustentável dos recursos naturais. 
O objetivo das oficinas é levantar junto à população como se utilizam os recursos naturais e o território da APA, assim como a eventual existência de conflitos entre as diferentes atividades identificadas. Também verificar as potencialidades e pensar em como fortalecê-las, para promover o desenvolvimento das atividades de modo sustentável.
Houve na abertura um protesto de cunho político repudiando a APA e suas potenciais decisões, mas nada que tenha interferido no processo já que o caráter "politiqueiro"  usando a tática de "morde e assopra" do protesto ficou muito evidente.  
Importante mesmo foi o mapeamento dos Territórios Pesqueiros feito pelos pescadores e maricultores.
Garantir esses territórios aos pescadores e maricultores artesanais é uma forma de assegurar que essa atividade continue já que envolve aspectos culturais e sociais de grande importância.
 
No grupo da maricultura de pequeno porte, ou artesanal, a participação foi muito eficiente e produtiva.
Isso se deveu ao trabalho conjunto de mais de 15 anos que esse grupo de maricultores desenvolve unido.
Embora a ausência de um representante oficialmente constituído da AMESP, que é a Associação que congrega a maioria desses produtores, esse fato estranho não prejudicou os trabalhos pois não é uma associação que faz a atividade, é a atividade que constrói a associação.
Estavam presentes representantes oficiais da MAPEC, APE, Associação dos Maricultores de Picinguaba e Colônia de Pesca de Caraguá. 
Pontos muito importantes foram elencados, como a necessidade de proibir a pesca amadora e a caça submarina dentro e próximo dos cultivos, exceto em caso de manejo especial autorizado pelo maricultor, já que os cultivos são celeiros geradores e exportadores de vida marinha que contribuem para a recuperação dos estoques pesqueiros. Também a garantia de demarcar áreas de preferência aos maricultores integrantes de comunidades locais foi levantada, assim como o problema causado por embarcações e marinas que usam as boias como balizas de manobras radicais e despejam óleo na água.
Embora 99% dos maricultores hoje usem coletores artificiais para adquirir as sementes na própria área de cultivo, foram demarcados alguns dos bancos naturais de mexilhão devido ao avanço da poluição e dos condomínios que cercam áreas de costeira impedindo o acesso a esses costões rochosos especiais que devem ser protegidos e ter seu livre acesso garantidos.
Foi interessante também a participação no grupo de maricultores de dois extrativistas de mexilhão, que acrescentaram muito expondo seu modo de trabalho e também marcando no mapa seus pontos de extração que devem também, a meu ver, serem protegidos e garantidos.

Fotos: Peter Santos Németh

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

OS PERIGOS DAS TRILHAS DE UBATUBA

Mais uma vez faço menção ao Blog Coisas de Caiçara do meu amigo Zé Ronaldo que muito bem descreveu a importância turistico-antropológica  das trilhas e caminhos de servidão que dão acesso às praias e costeiras de Ubatuba.
Em 2007 quando foi feita mais uma tentativa de atualizar a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Ubatuba (a LUOS) através do Projeto de Lei - PL 106, nós do grupo de trabalho da região Centro-Sul atentos a esta importância das trilhas, inserimos na Seção II - Das vias existentes e projetadas, o Item IV - Trilhas e Acessos Tradicionais com o seguinte regramento: Art. 26, §3 - As trilhas e acessos tradicionais também serão mapeadas e classificadas como interesse turístico/social sendo impedidas de intervenções que as descaracterizem em tamanho e largura, sendo permitidas intervenções brandas somente nos casos em que a segurança de turistas e moradores locais estiver comprometida.
Além disso também inserimos os seguintes itens fundamentais que não existiam no PL 106:
XL.São sítios pesqueiros e Aqüícolas são áreas onde são exercidas as atividade econômica da pesca  e da aqüicultura  conhecidos, nomeados, defendidos, delimitados e manejados pelos pescadores e aquicultores  em sua faina pesqueira, territórios de uso das sociedades pesqueiras a partir do trabalho e do conhecimento dos processos naturais que atuam neles.
XLI. uso sustentável, exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos de forma socialmente justa e economicamente viável.
XLII. populações tradicionais ,São consideradas populações ou comunidades tradicionais os grupos humanos culturalmente diferenciados, fixados numa determinada região, historicamente reproduzindo seu modo de vida em estreita dependência do meio natural para sua subsistência, notadamente os Caiçaras, os Quilombolas e os Indígenas.
XLIII. trilhas, são os caminhos ou picadas que dão acesso à pontos turísticos tradicionais ou não, caracterizados por permitir apenas o trânsito de pedestres.
XLIV. acessos tradicionais, são os caminhos ou picadas utilizados por comunidades tradicionais.
XLV. comunidade local, população de um bairro representada por sociedade civil organizada e não organizada.
Na oportunidade fiz um giro pela trilha da Ponta do Espia até as Toninhas registrando tudo com algumas fotos.



Percebe-se pelas fotos que antes, onde era um Caminho de Servidão, foram construídas ruas com calçamento e é gritante a descaracterização da Trilha de acesso a Praia do Tapiá que nesta época ainda estava aberta ao livre trânsito de pedestres como assegura nossa Constituição Federal.
Hoje esse Caminho de Servidão encontra-se fechado com cercas de arame farpado à revelia de nossa Carta Magna.
Foto: Julio César Mendes
Pior ainda, o próprio condomínio considera a Praia do Tapiá como uma praia "particular" conforme uma matéria da Revista Veja de 2009:
"Com 137 lotes (dos quais cerca de dez estão à venda) e 55 casas, o Condomínio Ponta das Toninhas virou reduto de bacanas. Localizados no alto de um morro, muitos dos terrenos têm vista cinematográfica para o mar. As casas, todas com mais de 400 metros quadrados de área útil, são negociadas a partir de 1 milhão de reais. "Usamos uma prainha exclusiva, com acesso por uma trilha que começa no loteamento", diz Filippo Frenda, presidente do condomínio. "Isso valoriza os imóveis."
Aliás a reportagem mostra muito bem qual é a "política" que rege nosso patrimônio ambiental em Ubatuba.
Até quando tudo isso poderá ser feito sem qualquer tipo de fiscalização ou providência cabível?
Como bem denunciou o Julinho Mendes em 2011: "Que esse grito seja ouvido pelas associações caiçaras e outras de interesses ecológicos e turísticos e principalmente pela promotoria pública de nosso país". Em http://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=34976 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

DESOBEDIÊNCIA CIVIL E A TRADIÇÃO CAIÇARA

Para as comunidades tradicionais que vivem sob regras tácitas de convívio social baseadas na reciprocidade e na confiança entre seus pares, não existe nada pior do que desobedecer a um regramento estabelecido.
Todos conhecem os limites do que é permitido ou não na comunidade e as consequências da desobediência.
Nada pior pra quem depende da instituição comunitária, seja para um mutirão ou para a pesca, do que ser banido do grupo. Perde-se o apoio da comunidade, o convívio grupal, fica-se isolado, sozinho. É uma questão simples de sobrevivência, pois isolado, é muito mais difícil enfrentar as duras tarefas diárias.
O mutirão, também conhecido como putirão, puxirão, adjutório ou troca dia, é uma verdadeira instituição Caiçara de imenso valor social e cultural. Através dele congregam-se várias famílias a fim de ajudar numa tarefa ou empreitada penosa de ser feita em solitário e quem solicitou a ajuda faz a "paga" com bebidas, comida e um baile de Fandango Caiçara.
Durante o mutirão seja para a puxada de uma Canoa Caiçara, para o preparo ou limpeza de uma roça, para a colheita ou para o plantio, estreitam-se as relações sociais. A cachaça que injeta ânimo para o esforço físico, também facilita muito a contação de causos e histórias ocorridas em tempos passados, transmitindo assim a tradição oral de uma geração para outra e reforçando os laços e a identidade cultural.
As técnicas e saberes também vão sendo exercidas em conjunto e naturalmente os Mestres vão coordenando os trabalhos, mostrando os nós, dando e executando comandos, respondendo perguntas, explicando os "porquês" e assim a Cultura não escrita, vai sendo transmitida pela oralidade.
foto: Peter S. Németh
Sábado último, dia 5 de outubro de 2013, houve uma roda de prosa em São Paulo, capital sobre o Fandango Caiçara. Estiveram presentes alguns Mestres Fandangueiros de Cananéia representados pela Família Pereira, o Prof. Doutor Antonio Carlos Diegues, do Nupaub-USP, e cerca de 20 jovens pesquisadores e extensionistas focados e engajados política/filosoficamente nos aspectos socioculturais das Comunidades Caiçaras do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.
Foi impressionante perceber durante o encontro que nas várias linhas de frente regionais onde os pesquisadores atuam é tema recorrente o impacto negativo da legislação ambiental vigente sobre a reprodução sociocultural Caiçara, a ponto de ameaçar de extinção esse modo de vida que permanece praticamente inalterado desde o século 16.
Questões fundamentais foram levantadas:
1- Um Caiçara que fez uma viagem pra Curitiba notou que "pra lá num tem um pé de pau, só campo de soja..."; se nos 500 anos em que o Caiçara vive na mata, ela ainda existe, pra que ou pra quem foi feita a lei da mata atlântica? Deve ser pro rei da soja ter sua casa de praia com vista pra floresta e um Caiçara, sem de onde tirar tradicionalmente seu sustento, trabalhando de caseiro para ele.
2- RDS e RESEX, que antes eram vistas como uma solução para que as comunidades pudessem formalizar seu modo tradicional de gerir o próprio espaço territorial e os recursos naturais que utilizam, hoje, com a forma "democrática" de instituir as unidades de conservação, "só participam figurão e seus cupinchas... pois o Caiçara não vai largar seu dia de serviço pra ir..." virou uma ferramenta para o especulador mercantilista. (leia)
3- Uma roça Caiçara (e também a maricultura) atrai e sustenta maior diversidade de fauna e na ausência da roça os animais somem e em menos de 10 anos a floresta já está fechada novamente.
4- Uma roça com milhares de pés de palmito Jussara plantada por um Caiçara em sua própria terra não pode ser cortada; mas e se ele "contratar" para a colheita integrantes de alguma etnia indígena, pode? Aliás foi identificado uma espécie de "ciúme" entre o caiçara e o indígena já que embora ambos sejam "tradicionais" perante a legislação, o índio pode tudo e o caiçara pode nada.
5- Perante a Constituição Federal o Caiçara tem o direito de exercer sua cultura, e esse direito lhe é negado pelas diversas leis ambientais. É urgente enfrentar a legislação inconstitucional trazendo juristas para o embate, criando um "marco legal" que garanta ao Caiçara o direito constitucional de exercer sua cultura, já que seus direitos atuais flutuam ao sabor do entendimento de cada gestor de parque. Mudou o gestor, muda o entendimento e muitas vezes as permissões para trocar uma telha, fazer uma coivara, ou dar um peido sequer demoram seis meses. Qual a dificuldade com a tecnologia atual de tablets, celulares com gps e internet de fazer in loco a autorização? Até a Sabesp e Electro imprimem a conta de água ou luz na hora!
6- Desobediência civil talvez seja a forma de protesto que deva ser iniciada face a urgência de uma solução. Não há mais tempo para discussões, fóruns ou reuniões pois está acabando em diversas regiões a última geração de Mestres Caiçaras que ainda lembra, sabe, faz e transmite a Cultura Caiçara.
7- No entanto, o Caiçara tradicional tende a sempre respeitar a lei, mesmo que seja uma regra em desacordo com o seu universo existencial, ou mesmo que ameacem sua própria existência como são as legislações ambientais. Foi relatado o caso de um Caiçara que foi preso por estar com dois palmitos embarcados em sua canoa. Os palmitos foram plantados por ele próprio, dentro do seu quintal e estavam sendo levados como presente para um parente. O Caiçara tentou suicídio na cadeia, pois seu universo cultural de gerações foi pulverizado em segundos.
8- A agilidade em "oficiar" os órgãos ambientais durante audiências públicas, reuniões e afins, também foi citada como uma estratégia eficiente. Houve um caso em que foi utilizada uma impressora e notebook durante uma audiência pública para gerar documentos e abaixo-assinados protocolados como "contraditório" no mesmo instante.
9- Além da desobediência civil proposta, talvez as recentes decisões do IPHAN reconhecendo o Fandango Caiçara como patrimônio cultural imaterial do Brasil e o pedido de registro dos saberes e fazeres da Canoa Caiçara também possam garantir o direito constitucional dos Caiçaras a sua terra, seus recursos e sua cultura, pois o Fandango é o elemento comum que "amarra" e a Canoa é o veículo que transporta, de uma geração até a outra, todas essas manifestações culturais Caiçaras.

O GALO CANTA (Família Gangsters) veja o vídeo clipe
Conquistar o céu
Ver o Sol de outro planeta
Decifrar a natureza
A fonte do segredo está dentro de nós

O homem busca há tanto tempo
O sopro do vento, um passo maior
Seu caminho, atrás de ciência
Perdeu a inocência
Gastou seu suor

Sonhou com o céu,
De cá, da terra

Conquistar o Sol,
De outro planeta ver o céu
Se sentir um grão de areia
Nas diferenças tão iguais

Respeito... para confrontar
Conceitos que nunca vão mudar
Enquanto sobe o concreto
E as luzes para confundir....
O galo canta!

O galo canta
O dia amanhece
O Sol esquenta
Meu jardim floresce.

fontes:
Blog Canoa Caiçara: http://canoadepau.blogspot.com.br/
Ponto de Cultura Caiçaras - Cananéia: http://galerialagamar.matimperere.com.br/
Enciclopédia Caiçara - Nupaub-USP: http://nupaub.fflch.usp.br/
Projeto O Galo Canta: http://catarse.me/pt/projects/674-o-galo-canta

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

VIOLA CAIÇARA DE CANANÉIA

Viola Caiçara de Cananéia: texto e foto extraídos de Rodolfo Vidal em
https://soundcloud.com/rodolfovidal

Também é conhecida como viola branca, viola iguapeana, viola de fandango e ainda viola fandangueira. A viola caiçara é o principal instrumento musical do fandango caiçara e das manifestações culturais tradicionais de Cananéia, como a Reiada e a Romaria do Divino.

É construída artesanalmente, a partir da caxeta, madeira macia encontrada nas áreas alagadas da região, possuindo cor clara, por isso dado pela maioria dos violeiros o nome de viola branca e é usado para compor o corpo, o braço e a mão do instrumento. Outra madeira utilizada é a canela, para detalhes no tampo, para o rastilho, o cavalete e as cravelhas.

A viola apresenta o braço nivelado com o tampo do instrumento, contendo 10 casas e uma cravelha instalada na junção do braço com o corpo do instrumento chamada por nós de periquita. Essa corda que fica presa nesta cravelha é mais curta, funcionando como um pedal.
Possui, normalmente cinco cordas, podendo, as duas mais graves, serem duplas (ou somente uma delas) e no seu encordoamento, utiliza-se cordas de violão e viola. Sua afinação é (de cima para baixo): lá (periquita) - ré – sol – dó – mi – lá.

Essa viola é encontrada principalmente no litoral sul paulista e no litoral do Paraná, sendo considerada um instrumento típico da região. Com essas características a viola caiçara nunca foi substituída por instrumentos industriais, mantendo sua originalidade.