domingo, 12 de janeiro de 2014

A CANOA CAIÇARA, O PESCADOR E O TURISTA.

Que pescaria linda a do Ascendino!
Com seu tresmalho de costeira, largado no lugar e horário certo, ele matou santola, piragica, cação leitoinha e até lagosta. 

Pescaria boa assim é sorte grande pro Caiçara, ainda mais em plena temporada, época em que a Canoa puxada no "lagamar" atrai o turista que nem o bonito "ardido" atrai a garoupa.
A turistada sempre começa com a pergunta clássica: "Que peixe é esse?", depois: "Olha filho o peixinho." Aí é hora do pescador "pescar" o turista, respondendo: "Esse é o cação leitoinha, muito gostoso frito." "A piragica tem um gosto mais forte mas dá um caldo que é uma beleza, um viagra natural." E assim vai, fala daqui, ensina dali até que dá o preço e o turista pergunta: "O senhor limpa?", pronto fisgou: "Limpo sim, deixo prontinho pra fritar."



Eu vendi muito peixe na praia, em cima de um banco de Canoa, igual a essa do Ascendino.
Foi um tempo muito bacana da minha vida, vivi e sobrevivi do mar, senti a alegria gloriosa de depender apenas do meu conhecimento, da minha rede e da minha Canoa, movidos pela vontade e pela força do meu remo. Vender meu peixe na beira da praia e com esse dinheiro comprar minhas coisinhas, ser livre e autônomo.
Escolher ainda com o raiar do dia o peixe que ia fritar e comer com farinha e café bem doce no meu desejum, e assim começar o dia cheio de energia do peixe "batendo a boca" mais fresco que pode existir.
Eu sempre digo que se alguém quer encontrar peixe fresco de verdade tem que conhecer a história do peixe: quem pescou, onde, como, então quando for comer o peixe toda essa história vai junto, alimentando não só o corpo mas também o espírito que fica um pouco mais enriquecido de saber.
Da próxima vez que for a uma praia procure bem cedinho uma Canoa Caiçara puxada na beira do mar, ali tem muito a se aprender.

fotos: Peter Santos Németh, Praia da Enseada, dezembro de 2013.


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