segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O Projeto Colonial Capitalista de extermínio dos Pescadores Tradicionais.

Trecho do texto CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ASPECTOS DE VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS ASSOCIADOS AO CONHECIMENTO TRADICIONAL DOS PESCADORES ARTESANAIS. autor Peter Santos Németh.:

Para Moura (2013) “a conquista dos mares e oceanos pela modernidade, incluindo as ciências modernas”, são parte de um “projeto colonial” no qual:

(...) força-se a modernidade ao setor pesqueiro na conquista de territórios marinhos de pesca pelos Estados Modernos em favor das indústrias de pesca nascentes e em prejuízo da pesca artesanal, que passa a ser desvalorizada culturalmente e pilhada em seus recursos materiais. Esta conquista de territórios marinhos de pesca tem sido chamado de modernização capitalista da pesca em diversos países, inclusive no Brasil, conforme relatado em McGoodwin (1990), Pálsson (1991), Lalli e Parson (1993), Vandergeest e Peluso (1995), Parsons (2002) e Roberts (2007). (MOURA, 2013, grifos do autor)

Para Breton e Estrada (1989, apud CARDOSO, 2001) o Capitalismo ao invés de conseguir dominar o conjunto dos fatores da produção pesqueira, como fez com “todo o plano da tecnologia; há que conformar-se com um controle e planejamento parciais dos outros elementos constitutivos das forças produtivas, ou seja, os recursos haliêuticos como objeto de trabalho e os pescadores como força de trabalho” (CARDOSO, 2001).
Assim, a extrema especialização necessária para exercer a atividade pesqueira, ainda garante certa “liberdade” (DIEGUES, 1983) e autonomia ao pescador, “pois à beira-mar não se passa fome, por isso nunca vai haver pescador amansado” (NÉMETH, 2010). 
Outro ponto vivenciado foi que o peixe capturado é considerado, pelos pescadores de canoa, como dinheiro em caixa. Chegando na praia, o balaio de peixes se transforma em dinheiro vivo, pois a venda é feita diretamente ao consumidor, que muitas vezes está aguardando o pescador chegar (KANT DE LIMA e PEREIRA, 1997).
Assim o pescador garante o sustento certo de sua família, proporcionando a experienciação de um grau de liberdade e autonomia extremamente elevados. Esse aspecto, o de transformar através do PHT do Mestre pescador, o pescado em valor econômico, é o mais precioso pois, funcionam o meio natural e os estoques pesqueiros quase como uma despensa ou um caixa eletrônico de banco, onde o pescador pode, a qualquer momento, baseado em seu PHT, conseguir o dinheiro suficiente, ou, na pior das hipóteses, o alimento necessário para a subsistência familiar.
O antropólogo Viveiros de Castro (2014) em entrevista concedida à revista Piauí, cita o norte-americano Marshall Sahlins que nos anos 1970 se ocupou da dimensão econômica de sociedades mais “pobres” que, segundo a visão então consagrada, mal conseguiam assegurar a própria subsistência com técnicas pouco desenvolvidas e baixa produtividade. Segundo Viveiros de Castro, o que Sahlins argumentou, “colocando em questão a santíssima trindade do homem moderno: o Estado, o Mercado e a Razão, que são como o Pai, o Filho e o Espírito Santo da teologia capitalista”, é que não fazia sentido, para esses grupos, acumular bens.

Tampouco era lógico produzir estoques, quando esses estão ao redor, “na própria natureza”. Do ponto de vista dos caçadores-coletores, não lhes faltava nada. Trabalhar pouco era uma escolha, e aqueles grupos constituiriam o que o antropólogo chamou de primeira “sociedade de afluência”. (...) Em vez de símbolo de atraso, a “sociedade primitiva”, escreveu o antropólogo carioca, “é uma das muitas encarnações conceituais da perene tese da esquerda de que um outro mundo é possível: de que há vida fora do capitalismo, como há socialidade fora do Estado. Sempre houve, e – é para isso que lutamos – continuará havendo”.  (VIVEIROS DE CASTRO, 2014, grifos do autor)


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A VANGUARDA DA MITILICUTURA PAULISTA EM CURSO

MITILICULTURA: cultivo de mexilhões Perna perna ou o nosso marisco de pedra.

O maior especialista brasileiro em Mitilicultura ministrará curso sobre essa atividade que se tradicionalizou como uma prática genuinamente Caiçara, no litoral norte paulista.
Hoje, essas fazendas marinhas são a garantia de sustento de muitas famílias de pescadores locais que de modo ambientalmente correto, proporcionam nesse sistema equilibrado, outputs ambientais benéficos à recuperação dos estoques de biodiversidade marinha.
Na vanguarda dessa atividade estão o Prof. Dr. Hélcio de Almeida Marques e os Maricultores da Praia da Cocanha em Caraguatatuba. Nessa praia existe uma Associação de Pescadores e Maricultores, a MAPEC, cujos associados desenvolveram um método inovador de coletores artificias de sementes de mexilhão. Analisando as condições da água do mar, do índice de condição dos mexilhões, esses produtores lançam as estruturas de coleta (foto) confeccionadas com as redes velhas utilizadas no próprio cultivo, reutilizando o que antes era descartado. Esse método de cultivo desenvolvido e aperfeiçoado na Cocanha é o que existe de mais avançado no campo da Mitilicultura Sustentável, ou seja, ambiental, econômica e socialmente eficaz.
Portanto, quem quiser ter contato com o "estado da arte" dessa atividade imprescindível para a recuperação dos nossos mares e para a conservação do modo de vida Caiçara, haverá dos dias 23 a 26 de setembro em Caraguatatuba-SP, um curso com esses Mestres. Imperdível.