sexta-feira, 20 de novembro de 2015

TRADIÇÕES, TEMPOS e LUGAR

ENQUANTO UMA TRADIÇÃO VAI SE PERDENDO,
OUTRA TRADIÇÃO SE PODE COMPRAR, E,
POUCO A POUCO, VAI OCUPANDO O LUGAR.

Tradições e Tempos sobrepostos na Praia da Enseada. Foto: Peter S. Németh 2014.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

"CAPA", a canoa reciclada.

No ano de 2004, mais ou menos, o Mestre Antenor comprou uma canoa de "Seo" Neves, lá do Flamengo. Ela veio toda envelopada com fibra de vidro. Aquilo num prestava, enchia de água entre a madeira e a fibra, a madeira num secava nunca, a canoa era um peso só e a madeira já tava pijuca (fofa de podre). Arrancamos a capa de fibra dos dois lados, reformamos a canoa e ele a vendeu, (o resto de resina mal curada que sobrou na madeira colava no pé, isso enchia o saco). 
A capa ficou jogada lá em casa, o mato comendo ela devagarinho. Vez por outra eu puxava, cortava a grama e deixava ela lá de novo. Quando sobrava um materialzinho de resina e manta eu ia colando os pedaços dela e largava de novo. Anos e anos depois, ela ficou "em pé", já tinha cara de canoa, faltava o espírito. Planejei fazer umas garras, quilhas, cavernas, bordos, sobreproa, sobrepopa e reforçar tudo com mais manta e resina... mas nunca realizei. 
Um dia o Paulinho pediu e eu dei a "Capa" pra ele. Meses mais tarde ele fez um rolo com o Dito Grande, que levou a Capa pra casa dele e foi colocando "pedaço". Aquilo tudo que eu havia imaginado ele fez em madeira, quilha, caverna, bordadura. Faltou a manta e a resina, que custa caro. Novo rolo feito com o Paulinho, que contratou "um cara lá da cidade que mexe cum fibra de vidro". 10 anos de aventuras depois, terminaram a canoa, mas sabe como é né... pode até parecer muito bom mas: Canoa de fibra de vidro, JAMAIS! 
Canoa de fibra pinica o pé e a bunda; se bater numa pedra, racha e afunda; se lascar corta como faca a pele; se entrar água afunda; e o pior de tudo, impede que uma Tradição seja transmitida. Uma canoa não é uma árvore que morreu e sim uma árvore que foi promovida para uma Nova Vida.
Mas esse espírito mágico não está presente numa canoa de fibra, ela é só a capa, sem conteúdo algum, é um arremedo superficial, uma cópia macabra que retrata a decadência da cultura local. Uma saudade daquilo que jamais, e muito provavelmente, pelo menos na Enseada, jamais será novamente.
Parece que agora o Ascendino comprou a Capa. Canoa de sorte, ela ganhou um dono caiçara de raiz. Só que ele também, assim como outros caiçaras, já foi expulso da beira da praia e não tem mais Rancho de Canoa no jundú da praia. Agora a sua canoa fica guardada no tempo, sujeita à chuva e sol... talvez então não tenha sido tão ruim eu ter salvo a Capa, há males que vêm para o bem... 

Ascendino e a sua canoa "CAPA", na Praia da Enseada. Foto: Cristina Prochaska, 2014.
Mestre Antenor reformando a Canoa depois de tirar a CAPA. Foto: Peter Nemeth março de 2004.

A canoa pronta pra pintar. Foto: Peter Nemeth março de 2004.

Dito e Marquinhos conferindo o serviço. Foto: Peter Nemeth março de 2004.


domingo, 15 de novembro de 2015

RDS: um pouco da história recente.


"Desde 1989, a equipe do Nupaub (Núcleo de Apoio à pesquisa de populações humanas e áreas úmidas) da Universidade de São Paulo esteve envolvida em pesquisas sobre a situação das comunidades tradicionais, moradoras das unidades de conservação de proteção integral. Algumas comunidades, como as caiçaras do litoral Sudeste brasileiro, estavam ( e ainda estão) sofrendo o impacto da criação dessas áreas protegidas sobre seu modo de vida. Naquele momento, a única categoria que possibilitava a permanência dessas comunidades e o respeito ao seu modo de vida tradicional era a Reserva Extrativista conseguida com a luta dos seringueiros da Amazônia. Nesse sentido, o Nupaub iniciou o contato em 1992, com a comunidade do Mandira, no município de Cananeia-litoral de São Paulo para encontrar caminhos para a melhoria de seu modo de vida, mantendo os recursos naturais de que dependiam para sua sobrevivência, em particular da extração da ostra de mangue e do pescado. Durante dois anos essa equipe trabalhou sobretudo no apoio à organização da comunidade, resultando na constituição de uma associação dos moradores e na ideia da proposta de uma reserva extrativista.Os estudos e apoio técnicofinanceiro necessários ao estabelecimento dessa reserva foram realizados pela equipe do Nupaub para a implantação de estruturas de manejo onde as ostras não eram retiradas do mangue, com o corte de raízes mas transplantadas, ainda pequenas para as novas estruturas colocadas no meio do estuário. A solicitação da Reserva foi feita ao CNPT, ( Conselho Nacional de Populações Tradicionais,) do Ibama, em 1994-1995" (DIEGUES, 2015).

LEIA AQUI O ARTIGO COMPLETO DO PROF. DIEGUES

Chico Mandira e seu sobrinho Adriano. Foto: Joey L. - Lavazza Calendar 2016 - From father to son,
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