sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Ato pela salvaguarda da canoa caiçara

Contribuindo para o registro da Canoa Caiçara (clique aqui e conheça o projeto) em 9 de dezembro (sábado) próximo, em Ubatuba, na praia da Barra Seca as 10h acontecerá o evento: Vivência da canoa caiçara – “Ato pela salvaguarda da canoa caiçara” . Acesse o DOSSIÊ CANOA CAIÇARA 2012.
"CAIÇARA EM CONSTRUÇÃO" Praia da Barra Seca, Ubatuba, SP. Fonte: Helbert Ramon facebook
Saiba mais sobre o evento em: http://fundart.com.br/festa-fandango-caicara-acontece-em-dezembro-2/

ATUALIZAÇÃO: FOTOS DO EVENTO DIA 09/12/17 (fotos: Peter Santos Németh)
                      Se depender desse povo guerreiro a salvaguarda já é uma realidade.










sábado, 21 de outubro de 2017

Uma Canoa Caiçara na França - Brest 1996

Transcrito integralmente do original em: https://www.sescsp.org.br/online/artigo/9_A+CULTURA+DO+MAR

FOTOS INÉDITAS DE ANTONIO CARLOS DIEGUES

LEIA TAMBÉM ONDE ESTÉ ESTA CANOA HOJE: https://canoadepau.blogspot.com/2019/11/canoa-caicara-sao-sebastiao-tem-alma.html

Brest. Fotos: Antonio Carlos diegues - julho de 1996


POSTADO EM 

A cultura do mar






Organização não-governamental do litoral paulista luta pela valorização das tradições caiçaras
ROBERTO HOMEM DE MELLO
Dois brasileiros despertaram especialmente a curiosidade dos visitantes do Encontro dos Marinheiros e Embarcações do Mundo, realizado em julho do ano passado na cidade francesa de Brest. Munidos apenas de machado, prumo e enxó (instrumento de cabo curto com chapa de aço cortante), Geovani Oliveira e Moisés de Souza transformaram, em oito dias de trabalho, um tronco de guapuruvu, trazido do Brasil, numa canoa de 7 metros de comprimento.
Ao dar forma exata à madeira bruta, sem o auxílio de compassos ou computadores, Geovani e Moisés estavam apenas utilizando o conhecimento e a técnica que lhes foram transmitidos por seus pais, também canoeiros (construtores de canoas), na praia do Bonete, em Ilhabela, litoral norte do estado de São Paulo. Nesse local, a canoa não é só instrumento da pesca, fonte principal de alimentos da comunidade. É também o único meio de transporte disponível. As pequenas embarcações levam regularmente peixe, banana e farinha de mandioca para vender em São Sebastião, a cidade mais próxima no continente, e trazem de volta arroz, sabão, sal e até sacos de cimento, tijolos e bujões de gás.
A praia do Bonete, embora esteja recebendo um número crescente de turistas, ainda resiste como uma das últimas comunidades tipicamente caiçaras, dependentes da pesca, da pequena agricultura e do extrativismo. Antes, comunidades como essa se espalhavam por todo o litoral e mantinham traços culturais comuns na faixa da costa entre Santa Catarina e o Rio de Janeiro. Hoje, devido à rápida transformação que o turismo e a febre imobiliária operaram em seu ambiente de vida, a identidade dessas populações está sendo cada vez mais diluída e suas tradições começam a ser esquecidas pelos próprios caiçaras, principalmente os mais jovens.
Cultura e sobrevivência
Mas há quem se preocupe em evitar o desaparecimento da cultura caiçara. O maior foco de resistência é justamente a organização cujo trabalho despertou a atenção não só dos franceses de Brest, mas também de instituições e universidades do Canadá, Chile, Cuba e outros países, além de ter tido ampla repercussão no Brasil. Trata-se do Projeto Cultural São Sebastião Tem Alma, sociedade civil sem fins lucrativos criada pela advogada e diretora teatral Teresa Aguiar em 1989.
Teresa e a antropóloga Ariane Porto, que coordenam o projeto, no início se dedicavam principalmente a registrar, recolher e estimular manifestações culturais como o artesanato, a música e as festividades tradicionais. Mas, numa ocasião em que se empenhavam pelo ressurgimento de uma dessas festas, a congada, que não se realizava no local há mais de 30 anos, elas escutaram de um antigo morador que, devido às dificuldades com a pesca artesanal, "ninguém estava mais com cabeça para essas coisas".
Esse depoimento somou-se a outros semelhantes, e reforçou uma idéia que passou a nortear o projeto: "É impossível trabalhar com recuperação cultural de uma população se ela está sendo descaracterizada em suas atividades fundamentais de economia e sobrevivência", diz Ariane.
A organização procurou então descobrir quais eram os principais obstáculos que afligiam os caiçaras. Com esse objetivo, promoveu em 1990 o Congresso Caiçara e o Encontro das Ilhas. Nesses eventos, foram reunidos pescadores, autoridades, ambientalistas, estudiosos e interessados em geral, que debateram - "de igual para igual", segundo Ariane - os problemas da região e elaboraram documentos com propostas para resolvê-los.
Medo da polícia
Um dos obstáculos levantados, por incrível que pareça, era a legislação ambiental, que, por estabelecer como crime inafiançável a retirada de qualquer espécie da Mata Atlântica, impedia algumas das atividades tradicionais e fundamentais dos caiçaras, como fazer roças de mandioca e construir canoas.
Os responsáveis pelo cumprimento dessas leis ainda conseguiam piorar a situação. A organização colheu depoimentos de canoeiros e artesãos que tinham sido "presos, algemados, alguns espancados, tratados como criminosos" pela Polícia Florestal, diz Ariane.
Isso deixou os caiçaras retraídos. Ariane procurou pessoas que sabia serem canoeiros, para convidá-los para atividades do projeto. Eles desconversavam, com medo.
A organização, aproveitando o contato proporcionado pelo Encontro Caiçara, fez acordos com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e a Polícia Florestal, para que, mediante vistoria prévia, fosse autorizada a utilização de árvores caídas naturalmente ou condenadas - o guapuruvu, por exemplo, depois de cerca de 30 anos de idade costuma ser atacado por brocas e não demora a morrer, diz Ariane.
Apesar do avanço obtido com esses acordos, a burocracia permaneceu muito complicada. Ariane conta o caso de um canoeiro que a procurou "desesperado". Um jequitibá estava caído no seu terreno e ele queria usá-lo para fazer uma canoa. A árvore havia sido derrubada por um raio, mas ainda assim era necessária uma verdadeira via-crúcis para obter a autorização para utilizá-la: exigia-se um croqui (o morador não tinha idéia do que fosse isso) mostrando onde estava a árvore tombada, que deveria ser encaminhado ao Departamento de Proteção aos Recursos Naturais (DPRN). Depois disso, era preciso esperar uma autorização da Polícia Florestal e por fim uma vistoria do Ibama.
O projeto assumiu a causa, mas foi em vão. Depois de seis meses de vaivém burocrático, quando tudo enfim ia se resolver, o jequitibá já estava podre...
Esse esforço, porém, não foi em vão, pois representou o germe de um dos trabalhos de maior repercussão da entidade: a revalorização do ofício de canoeiro. Conhecidos os trâmites da burocracia, a organização repetiu o processo e conseguiu para si mesma um tronco de guapuruvu. Ele serviria para "levar o trabalho dos canoeiros para o espaço público", diz Ariane. Armou-se um abrigo para construir canoas em plena praça do fórum de São Sebastião, onde o canoeiro Antônio Pequeno, de 75 anos, começaria a esculpir uma canoa.
Os incidentes que ocorreram no lançamento dessa idéia provaram que ela era necessária. Os golpes do machado de Antônio Pequeno no tronco despertaram imediatamente a ira de pessoas reunidas por uma manifestação ecológica (era o Dia do Meio Ambiente). "Fomos chamados de assassinos", diz Ariane.
"Mas com o tempo", afirma ela, "conseguimos convencer a população de que não é o canoeiro que destrói a Mata Atlântica."
As atividades da organização, sempre documentadas em vídeo, começaram a ser veiculadas na mídia. A partir daí, a abrangência do trabalho, que já havia começado a aumentar, não parou mais. Depois do Encontro das Ilhas, a entidade organizou dois encontros nacionais e um internacional - "sem abandonar aquela mesma estrutura da primeira reunião, dando direito de voz a todos", diz Ariane - e hoje acumula as mais diversas iniciativas. Dentre elas, a que hoje mais empolga Teresa Aguiar é um ambicioso programa de repovoamento do mar, nos moldes de trabalhos internacionais bem-sucedidos. O objetivo é oferecer condições para que a fauna marinha se reproduza em proporções muito maiores que as de hoje e com isso contribuir para a recuperação da pesca artesanal.
Outro trabalho da organização é o apoio às comunidades isoladas da região - nas ilhas de Búzios, Vitória e Montão de Trigo e na praia do Bonete. Além de visitá-las periodicamente com equipes de assistência médica, odontológica, etc., o projeto reabriu a escola da ilha Vitória, onde também promoveu, durante dois meses, um "mutirão de alfabetização", em parceria com a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.
Os novos caiçaras
Das múltiplas atividades em execução pela organização, talvez a mais regular seja a voltada aos alunos da rede pública municipal de São Sebastião, que se realiza desde 1990. Com patrocínio do Fundo Nacional do Meio Ambiente, a organização contrata entre os membros de cada comunidade professores para transmitir aos alunos de 14 escolas, como matéria optativa, as técnicas tradicionais da cultura caiçara. Entre elas o artesanato em caixeta, taboa e barro, a construção de canoas, a confecção de redes e a própria pesca, além de um curso de língua e cultura guarani, este destinado aos índios da reserva de Boracéia.
Essas aulas podem contribuir para derrotar uma das maiores ameaças à cultura caiçara: a apatia das novas gerações, que vivem em ambientes cada vez mais urbanizados, em relação ao legado cultural de seus pais.
Jaime Moreira da Silva, pescador da praia das Cigarras, em São Sebastião, reclama dos jovens, que em sua opinião não se interessam pela pesca artesanal. "Ninguém quer sujar a roupa, rachar o pé", diz.
Jaime não é o único a se queixar. Quando Ernesto de Sousa, pescador nascido na praia do Bonete, convida os rapazes que freqüentam as rodas de pescadores para pescar, ninguém quer. "Eles têm medo. Acabou a coragem." Mas não é uma empreitada fácil, pois Ernesto é exigente. Para ele só se pode considerar pescador aquele capaz de passar dez, 15 dias seguidos no mar.
Na beira da maré
Mas o que é ser caiçara, afinal? Uma conversa com eles é uma boa oportunidade de saber quais as referências que utilizam para definir-se. Para Ernesto, caiçara é "quem mora na beira da maré". Mas o verdadeiro caiçara, assegura, se distingue "pela fala". Ernesto, usando o sotaque melódico a que se refere, conta que tem prazer em pescar e considera a vida no mar sinônimo de saúde. "Volto do mar com uma fome...", diz. Já foi remando de São Sebastião até Santos - uma distância de cerca de 100 quilômetros pelo mar, viagem que hoje, aos 76 anos, ainda pretende repetir - agora, com motor.
"Bato no peito que sou caiçara", diz o pescador Reinaldo dos Santos, 51 anos, do bairro de São Francisco, em São Sebastião. Como prova da identidade cultural de que se orgulha, Reinaldo cita um prato tradicional esquecido por muitos mas ainda presente em sua casa: pirão de peixe com banana verde. Nele estão presentes as principais riquezas alimentícias do litoral: o peixe, a farinha de mandioca e a banana, que é cozida no caldo do pescado. "É um prato forte", diz.
Jandira de Oliveira Santos (ver texto abaixo), pescadora da praia da Enseada, em São Sebastião, também oferece um motivo gastronômico para identificar-se como caiçara: "Não como filé. Só gosto de peixe com espinhas".

Aula prática
Jandira de Oliveira Santos é o nome de casada de Jandira Peixoto de Oliveira, hoje separada. Em 1991, aos 45 anos, operou uma grande transformação em sua vida: foi morar sozinha, na praia da Enseada, extremo norte de São Sebastião (SP), e adotou uma profissão: pescadora. Já trabalhava e pescava antes, mas hoje é diferente. Vive no mar, vive do mar. Tira de madrugada sua canoa do abrigo, coloca nela 300, 400 metros de rede e rema para o fundo. Lá está a solução de todos os problemas. "Quando chego a um lugar deserto, aquele marzão, a lua iluminando, olho para um lado, para o outro, não vejo nada, ninguém, penso: 'Este mar é meu'. Fico muito contente", diz Jandira. Às vezes dorme na canoa esperando a hora de puxar as redes. Às 7:30, 8:30 da manhã, chega à praia com os peixes quando outros pescadores, diz, ainda estão se preparando para sair.
Caminhando pela grande faixa de água rasa, pelos calcanhares, que caracteriza a praia da Enseada, ela conta como se iniciou na pesca. Criança, ganhou uma canoa "em que mal cabia", diz ela. Pescava com o pai, de linha e anzol.
De repente, Jandira interrompe a história. "Ali deve ter siri escondido", diz, ao ver uma lata de tinta tombada, semi-encoberta pela água. Silêncio. Ela enfia a mão dentro da lata cheia de areia e de lá retira um siri. "Molinho, olha que beleza!", diz ela.
Como sabia? Muito simples: ela mostra ao lado da boca da lata um casco de siri. Ora, os siris, explica Jandira, precisam livrar-se da casca dura quando crescem. Nesse momento ficam ao mesmo tempo mais apetitosos e mais indefesos contra as bicadas das garças - havia, inclusive, uma por perto. Por isso precisam se proteger. Um casco de siri próximo a um bom esconderijo é uma charada fácil para os que, como Jandira, decifram o mar.
Uma lição puxa a outra. "Olha onde um siri grande está enterrado", diz, desta vez indicando uma área que aparenta ser exatamente igual às outras em torno. Mas não era. Ela tira de lá mais um siri e mostra a pista da descoberta. "Está vendo essa farinha branca?" Depois de certo esforço, orientado pela pescadora, é possível distinguir da areia também branca aquilo que ela chama de "farinha": outro subproduto da mesma transformação de siris pequenos e duros em grandes e moles.
Esses conhecimentos de Jandira seriam transmitidos apenas aos filhos ou às pessoas mais próximas se ela não tivesse realizado recentemente outra mudança em sua rotina. Agora, além de pescadora, ela é professora de pesca, no projeto São Sebastião Tem Alma.

Aqui a reportagem forçou a barra com o "Guarani", só porque havia alguém de cocar junto.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

MARVADA

A canoa MARVADA foi construída pelo mestre Baéco (Benedito Barbosa), mestre canoeiro pertencente à reconhecida família Neri Barbosa do Ubatumirim. Ela mede 6,5 metros de comprimento por 0,8 metro de boca. Sua madeira de origem não é bem ao certo estabelecida, já me foi dito: Louro, Araçarana, entre outras que não mais consigo lembrar. Pretendo investigar com melhor registro quando possível. Trata-se de uma madeira que lasca muito rapidamente sob sol forte, mesmo que estando a canoa navegando ao mar.
Quem a encomendou foi o sr. Roberto Prochaska acompanhado de seu companheiro de pesca Lagarto (Pedro de Jesus) diretamente com o Baéco por volta do ano de 2004. Ela chegou à Praia da Enseada em maio de 2005 onde foi batizada MARVADA, ganhando sua cor verde escura e o nome em amarelo pintado por mim.

O batismo de mar foi celebrado pela madrinha Leila de Carvalho Santos, amiga praiana de longa data do sr. Roberto, acompanhada pelos pescadores Lagarto e Zézinho que também inauguravam uma rede de Tróia recém entralhada para pescar tainhas.

Acredito que eu tenha feito três reformas na Marvada sendo que na primeira retirei 90% da tinta com lixadeira de mão, sempre preservando integralmente as linhas: do "cintado de borda", da "tábua de fundo", proa completa e espelho de popa. Desta feita transferi todas as medidas originais estabelecidas pelo "feitio do Baéco", reproduzidas abaixo.Em seguida dei-lhe um banho de epóxi Araltec a 20% diluído em álcool combustível (ainda não ousava faze-lo a 8 ou 10%).


A segunda reforma ocorreu por volta do ano de 2010, quando desta vez apenas lixamos totalmente a canoa preservando toda a tinta antiga e coloquei dois bancos novos de garapeira fixados com parafusos de inox. Depois apenas reforcei o nome em amarelo brilhante e repintei todo o verde, preparando tudo para a 1ª Corrida de Canoas Pescadores da Enseada (assista ao vídeo aqui).
Segunda reforma em julho de 2010. Turma da Enseada na lixa.

MARVADA ao fundo durante a corrida de canoas. Enseada, 2010.
Em 2011 adquiri a MARVADA do sr. Roberto. A canoa já apresentava várias partes "pijucando" principalmente na proa e bordos, pois foi muito exposta ao tempo, apenas coberta por uma lona durante os intervalos de pescaria.  Depois de bem enxuta lixei fora cerca de 40% da tinta antiga. Em um dia de sol forte dei-lhe um banho de epóxi a 10%, utilizando cerca de 20 litros de resina diluída em álcool combustível, principalmente em seu lado de dentro. Após a resina seca adicionei uma faixa também amarela demarcando definitivamente a "linha do cintado do bordo". É esta a principal linha que mantém a integridade do "feitio" do mestre canoeiro, preservando suas características de navegabilidade inicialmente projetadas. Junto com a linha da "tábua do fundo" o "cintado do bordo" estabelece a estabilidade e as entradas e saídas de água da Canoa Caiçara. Nesta ocasião também troquei um pedaço do bordo da canoa, preservando l00% das linhas originais.
Linha do cintado do bordo demarcada em amarelo. Enseada, maio de 2011.
Pintura em junho de 2011.

Corrida de canoas em julho de 2011.
Agora em 2017 a MARVADA precisa de uma boa reforma geral. Sua "garra de proa" está com um pedaço grande bem pijuco. Em julho de 2016 fiz um grande remendo provisório tirando 90% da parte podre e aplicando epóxi a 8% no local afetado. Mas depois porcamente enxertei isopor e vedei tudo usando massa de Araltec com serragem bem fina. Fiz esta porcaria pois precisava usar a MARVADA com urgência para o trabalho de campo da minha pesquisa de mestrado (acesse aqui).
Pretendo brevemente lixar de novo 90% da tinta e tirar todos os pontos de podridão. Depois banhar com epóxi a 8% e refazer a pintura. Quem sabe assim ela volta pras corridas.


sábado, 7 de outubro de 2017

MAPA DA CANOA CAIÇARA

Apresentamos o Mapa Colaborativo da Canoa Caiçara (CLIQUE AQUI PARA ACESSAR).

A Canoa Caiçara, como toda embarcação tradicional, é expressão material da inventividade e personalidade cultural da comunidade que a produziu. Para construir uma Canoa Caiçara é preciso dominar um sofisticado sistema de saberes associados às artes da pesca, navegação e carpintaria naval, modeladas ao longo de gerações especialmente para as condições náuticas locais, com a matéria prima disponível e adaptada aos usos e necessidades sociais específicas de um território.

"Consideramos território caiçara o espaço litorâneo entre o sul do Rio de Janeiro e o Paraná onde se desenvolveu um modo de vida baseado na pequena produção de mercadorias que associa a pequena agricultura e a pesca, além de elementos culturais comuns, como o linguajar característico, festas e uma forma específica de ver o mundo. Apesar das características comuns a todas as comunidades caiçaras, existem variações culturais importantes entre o litoral sul do Rio de Janeiro, norte de São Paulo e sul de São Paulo e Paraná que se explicam pelos tipos e graus de inserção nas economias regionais e pela contribuição, em grau variado, das diversas matrizes culturais. Essas diferenças se refletem, por exemplo, nos tipos de embarcações usadas e que se distinguem pela função e tipo de ambiente em que são utilizadas (mar, estuário, rios) bem como pelo diferente aporte de outras culturas (como a baleeira trazida pelos catarinenses açorianos) vizinhas como a caipira e a açoriana". (DIEGUES, Enciclopédia Caiçara, Vol. 1, pg. 25)


Mapa do território Caiçara por Diegues (2005): Enciclopédia Caiçara, Vol. 4, pg. 320. 

 O registro do Complexo Cultural da Canoa Caiçara deve portanto abranger as diferentes dimensões de seu papel na cultura local, os múltiplos saberes artesanais envolvidos em sua construção e uso, assim como o universo simbólico - festas, lendas, lugares de uso e de memória -, que a envolve.
Acreditamos que o reconhecimento institucional, pelo Estado brasileiro, da cultura Caiçara, é instrumento fundamental para a garantia de direitos constitucionais reservados aos grupos e comunidades tradicionais. Assim contribuindo para a formulação de políticas públicas de planejamento territorial, ambiental e fundiário, em um projeto de desenvolvimento que abrigue os produtores e detentores desta importante e ameaçada parcela da cultura nacional.
Neste sentido, o Mapa da Canoa Caiçara se constitui não apenas como um banco de dados mas também como instrumento de divulgação e mobilização em torno do reconhecimento da Cultura Caiçara. 
Para tanto, convidamos a todos os interessados a participar, com a elaboração do MAPA DA CANOA CAIÇARA (clique) através do facebook. Onde todas as informações serão recebidas, filtradas e depois plotadas por nossa equipe de colaboradores.

Texto por Adrian Ribaric e Peter Santos Németh.

Mais informações em: 


MAPA DA CANOA CAIÇARA Google Maps 



Foto: Peter Santos Németh, Praia da Enseada, Ubatuba, SP

sábado, 30 de setembro de 2017

Canoa RIFA entrando na linha

Chegou a vez da Canoa RIFA passar por uma reformazinha. Colocar pedaços onde está "pijuca", alargar a boca para deixar o bordo retinho, trocar os bancos e acertar a linha da "táboa do fundo". Depois de 10 anos de feita pelo Mestre Renato Bueno essa canoa de guapuruvu merece um tratamento especial. 
Fotos e trabalho de reparo por Peter Santos Németh, Praia da Enseada, julho de 2017.









 


terça-feira, 19 de setembro de 2017

60 anos de tradição das corridas de canoas em Ubatuba.

Fim de semana último comemorou-se os 60 anos da tradicional corrida de canoas da Praia do Itaguá, em Ubatuba.
(fotos de Thiago Mariano).
Mestre caiçara Élvio Damásio, narrado oficial das corridas de Canoas. 

"Os professores Joaquim Lauro e Enesmar de Oliveira, seguidos de perto por outro rapazote chamado José Odail, criaram a corrida de canoas caiçaras. Esta corrida era feita com canoas de trabalho dos pescadores e tinha como premiação utensílios diversos que propiciassem melhoria das condições de vida dos concorrentes. Durante muitos anos o grande patrocinador das premiações foi o Sr “Cicillo” Matarazzo que depois viria a ser prefeito de Ubatuba. Com o tempo a corrida foi se transformando com canoas feitas especialmente para a competição, e com a inclusão de novas categorias como a feminina e a de turistas, e a premiação foi estendida aos últimos lugares que recebiam seu vidro de Biotônico Fontoura. Novos desafios se apresentaram aos campeões que faziam novas canoas, e remavam até Santos refazendo a jornada histórica do Cacique Cunhambebe com Manoel de Nóbrega, para assinatura do primeiro tratado de paz do Brasil: “Paz de Iperoig” realizada na canoa Maria Comprida, que encontra-se na Fundart." (fonte Curiosidades Ubatuba, clique no texto azul acima e saiba mais sobre o Prof. Joaquim Lauro).


A partir do ano de 2000, tomou força o resgate das corridas de canoas caiçaras em Ubatuba com o empenho principalmente da comunidade do Itaguá na promoção da corrida Nossa Senhora das Dores do Itaguá capitaneada pelo pesquisador e músico caiçara Mário Gato. Segundo ele:
"As corridas de canoa se tornaram um evento muito importante para a cultura caiçara em Ubatuba, pois essa é atualmente uma das únicas formas de reunir pescadores e comunidades de norte e sul do litoral do município". (fonte: Tamar).

Mais fontes interessantes:
http://canoadepau.blogspot.com.br/2012/07/canoa-caicara-maria-comprida-comemora.html

http://fundart.com.br/cultura-e-esporte-corrida-de-canoas-caicaras-acontece-neste-domingo-em-ubatuba/

http://canoadepau.blogspot.com.br/2014/12/corrida-de-canoa-caicara-uma-historia.html

http://canoadepau.blogspot.com.br/2012/07/corrida-de-canoas-enseada-2012-ubatuba.html

http://canoadepau.blogspot.com.br/2012/12/garramar-o-surfe-caicara-em-canoas.html

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Pegadeira de Lula, Ubatuba março de 2004.

Alguém se lembra da pegadeira de lula que ocorreu em março de 2004 nos arredores da Ilha Rapada em Ubatuba - SP?
Pois foi uma ocorrência realmente incrível. Chegamos a capturar 10 quilos de lulas por hora, por pescador. Não era possível pescar com 3 linhas, mal dávamos conta de manejar 2, tal a velocidade das ferradas. Parávamos para guardar as lulas no gelo apenas quando elas começavam a atingir a altura das nossas canelas, o que dificultava nosso deslocamento no convés.
Durante a noite, o mar parecia uma cidade com tantas luzes de barcos acesas. Foi também o primeiro teste do Brazuca após sua reforma. Eu o James e o Lagarto capturamos mais de 300 quilos em cerca de uma noite e meio dia de pescaria. Até hoje, passados 13 anos, o fenômeno da pegadeira de lula nunca mais se repetiu na região.
O Élvio Damásio chegou a registrar oficialmente a captura de 400 toneladas de lulas no Mercado de Peixes durante os 3 meses de pegadeira, fora as lanchas de turistas, canoazinhas e barquinhos como o meu, que não registraram suas capturas.
Estão aí as fotos que eu tirei para comprovar.

Esta foi somente a minha parte, um terço, fora o que demos na praia. 

Brazuca saindo para rever o mar.